domingo, 21 de outubro de 2012

Poemas são como filhos?

Dizem que poemas e livros são como filhos, mas honestamente sempre tem alguns que a gente gosta mais. Aqui vão alguns textos que  marcaram para mim e, acredito, também para meus leitores. Em breve teremos um livro com meus 50 poemas escolhidos.  Espero que gostem!


 Do livro Poematéria

À Mulher que eu Amo

 A mulher que eu amo
É morena
De olhos castanhos,
Às vezes serena
E às vezes nervosa.
A mulher que eu amo
Adora rosas e carinho,
Mas é dura feito pedra
Quando quer,
Às vezes criança
Às vezes mulher.
A mulher que eu amo
Não mede palavras
Quando preciso,
Embora seja discreta,
Ainda que curiosa.
Às vezes espinho,
às vezes rosa,
Mas sempre muito
          Maravilhosa
          Mente humana.

Cristal

Bebe da poesia,
canta os dias que virão.
fala de amor.
Bebe dessa poesia
e faz dela tua arma,
branca e pura,
antes que ela te engula
e faça de ti um instrumento
fraco e mudo.


Poematéria

O caipira faz um poematuto,
a indústria tece um poematéria.
Um poemacaco foge do zôo,
Um poemacuco levanta vôo.

Marceneiro bate um pormartelo,
o artista pinta um poemarelo,
enquanto desfruta um poemarmelo
e escuta e dança um poemaxixe.

Na sua beliche, o poetalvez
Finca no papel a canetantã.
Surge à luz do dia uma estrofeliz
e o sol anuncia um poemanhã.



Tempoema

Tempo e matéria
Tem poesia na matéria
Poema tema teria
Sem maneiras de amor?

Tempo e maneira
Tem poema nesta artéria
Poematéria, eis o tema;
Tempo e amor
                       Tempoema.



Pavão

Gol de Pelé, lançamento de Gérson.
Acordeon de Gonzaga,
vagalume em noite alta,
peralta em pé-de-limão.
Coração idealista,
vista do mar de manhãzinha,
Mãe Menininha derramando bênção,
violão de Caetano,
ano novo sem seca.
Gol de Careca, lançamento de Pita.
Fita de Tarzan de manhã cedinho,
cavaquinho de Waldir Azevedo,
enredo da Império 86,
dia dez de todo mês.


Solto

Eu cumpro na terra a minha missão
tolíssima de escrever poemas.
De retalhar palavras e empilhar histórias
do arco-da-velha e velhas memórias.
Eu cumpro na terra minha missão
de conhecer meninas pro meu coração
e de roubar pedaços do teu dia-a-dia
e arrebentar cadarços de meninas novas
e buscar estrelas nas manhãs chorosas
e escrever poemas de ponta porosa
e encharcar mil terras de maneira óbvia
e nesta rodovia ultrapassar mil carros
e não fazer problemas de milhões de escarros
aguentando a barra dum trabalho escravo
o cravo na lapela e na janela o jarro
o jarro na capela e na capela o padre
o padre na miséria e na espera a madre
a madre no poema e no poema o povo
o povo na gandaia a saia ergueu de novo
o novo no poema é estar sempre
solto.



Agenda

Se em vida me fazem pouco,
morto quanto valerei?
Quanto valerá o rouco
verso dirigido ao rei?

Quantos lembrarão meu rosto
 e as roupas que escolhi
para os bailes onde apenas
ou nem mesmo eu me vi?

Se em vida me fazem pouco,
morto quanto valerei?
Quantos loucos debruçados
Sobre os versos que farei
Lembrarão os meus prazeres
E os seres a quem amei?
Quantos lembrarão meu nome
quando na mesa de um bar
ou quando as cordas trouxerem
o que eu gostei de cantar?
Ao menos fazendo choça,
quantos lembrarão de mim
ou da fossa que eu curtia
ao toque do bandolim?

Meus pais, irmãos e amigos
e parentes em geral
farão aos meus inimigos
ao menos guerra mental?
As namoradas que tive
lembrarão os beijos meus,
guardando entre seus pertences
Os meus escritos plebeus?

Quem guardará minha agenda
de compromissos perdidos
e endereços errados
e telefones vencidos?
Quem lembrará minhas datas,
Se em vida sou esquecido?

Quem colocará à venda
os livros que imaginei;
quem seguirá minha senda
mesmo tachado de louco?
Morto, quanto valerei
Se em vida me fazem pouco?



Do livro “O Direito da Voz”


Renúncia

De repente eu estava nu,
de repente eu estava só.
Dei as costas para o mundo,
não admiti ajuda.
Foi o meu primeiro ato
de consciente renúncia
e minha primeira dor.
O sol queimou o meu rosto
que estava nu e estava só,
mas eu não procurei colo
e assumi a solidão.
Dei as costas para o mundo
e absorvi o prejuízo.
Não admiti ajuda.
Foi o meu primeiro ato
de consciente renúncia.
Tacharam-me vagabundo.


Refúgio

Aqui estou novamente.
Apresento-me assim,
desarmado e contente,
para o único dever
que me satisfaz ainda.
Deixei para trás a teoria,
e as rimas que pintarem,
acredita-me, são casuais.
A dureza maior da melancolia
é não saber ao certo o motivo.
Eu vivo assim há muito
e é por isso que sempre volto
e me refugio nas tuas listras,
nas tuas linhas aconchegantes,
desde muito antes de saber
que a vida pode ser dura
ou não, dependendo de mim.
Apresento-me assim, desarmado,
um tanto quanto mais magro
e cansado dos dias que passam.
Venho recuperar as forças
no teu sangue branco e preto,
meu amigo predileto,
minha folha de papel.



A Relação

Caiu a mão sobre a tecla
e a tecla sobre o papel.
Sobre tudo, a mescla:
Carinho - ataque cruel.

A relação, humana relação,
é latente.
                  Antiga mente
previu        
                   antigamente.

O papel       vítima?
A tecla         cínica
                     ou carinhosa?
A rosa e o regador,
o regador e a rosa.

É preciso que se molhe
para que haja vida.
Necessário que se imprima
para que haja vida,
é a lei da continuidade.

A mão sobre a tecla
            sobre o papel
                      sobre a estante
diante dos homens.
Para que saibam
              (direito adquirido)
que é dever de todo jardineiro
andar dentro da lei
                  em todos os sentidos.


Caminhos da Vida
      (No colo do mundo, escuro calvário)

Os caminhos da vida são diversos.
Dispersos pelo mundo, os homens.
Há caminhos de infância:
poesia e brinquedos.
De mocidade:
boemia e aventura.
De vida adulta:
nostalgia  e distância.

Com um pouco de bom senso
e uma pitada de sorte,
compreende-se a tempo
que se caminha pra morte.
E mesmo assim – que trabalho! –
muitos procuram atalhos,
pra que não fique tão longe
chegar não se sabe onde.


As Gaivotas

A árvore, às vezes, vira ave.
Na aventura do vôo,
os galhos viram asas,
Raízes no ventre da terra,
Raízes no véu infinito.
Visionária viagem,
voluntária vertigem.
O verde é vivo como o vento,
A gaivota, leve como um verso livre.
A vista vislumbra várias verdades.
Haverá verdade?

(Aos poucos vamos publicando. Tem tanta coisa ainda, mas a gente chega lá. Abraços!).

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