sábado, 29 de dezembro de 2012

Do silêncio


Das travessuras e manhas do silêncio,

ora pois. 

Silêncio canta no escuro.
Respira escondido e pulsa,
vestido de sutilezas,
no sótão das entrelinhas.
Às vezes vaza em sentido,
noutras se torna em palavra.
O que  de fato ele gosta
é de verter poesia.

Otacílio Monteiro, poeta brasileiro

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Trem da vida


Passagem


Os pés de Laura correram até o quintal. Subiu no muro, sabe-se lá com que rapidez; o corpinho de criança, a alma já ficando adulta, corrompida na separação. Deu tempo ainda de ver Eduardo passar no trem. Ela conseguia enxergá-lo através do metal, do duro, frio e indiferente metal da composição.
Meses depois, decidiu que seu coração seria trem. Muitos Eduardos passariam por ele, mas ninguém mais moraria ali.
Abrigar amores dava trabalho demais. Laurinha aprendera aos 11, com o boy da cidade grande.




Otacílio  Monteiro 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Que venha 2013!



O ano se finda.
Tua linda imagem
Fica,
Rica,
Intacta.

O ano atraca
No último cais.
Tua imagem fica,
Intacta,
Rica.
(E peço mais).

O ano se finda.
Mas o que é
Um calendário?
Um punhado de dias
Sobrepostos
Incapaz de apagar
A tua imagem...

O ano se finda,
Mas a vida
Apenas  começa.
E me oferece,
Na prática,
A tua imagem
Intacta...

Otacílio Monteiro
Setenta Mi faces, 1997

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

É Natal

Quadrinha antisséptica


Para não manchar o mote,

vou rimar com Kung Fu.

Devido a rude calote,

Meu Natal não tem peru.


Otacílio Monteiro

domingo, 23 de dezembro de 2012

Microconto


Errante

Do que fizera, do que vivera, apenas restaram vozes. Soturnas vozes desconexas, a lhe torrar os miolos.
Deu as costas para o mundo, num belo dia de frio. Ia sumir por aí, seguindo o rumo do vento. Voltaria quando as vozes, enfraquecidas e roucas, se cansassem do caminho e lhe pedissem arrego.
Não voltou, nem deu notícias. Caminha torto pelo mundo afora, a sacudir a cabeça. As vozes, atrapalhadas, seguem seus passos errantes. Aguentam firme a toada, marcando o ritmo trôpego.

Otacílio Cesar Monteiro

Minas

Minas

Quis andar nas entrelinhas...
o trem do amor me pegou.

Otacílio Monteiro

sábado, 22 de dezembro de 2012

Oficina de textos - exercício em "T"



Tenso

Teoria, tempo, trabalho,
trinado, timbre, textura.
Tarô, tulipa, toada,
tramela, trinco, ternura.

Trânsito, trinca, tempero,
tecido, travessa, trevo.
Treliça, troca, triângulo,
tom, telefone, tônus.

Tranças, Tablito, talento,
trilha, trajeto, tesouro.
Toalha, trufas, trejeitos,
travesseiro, taças, touro.

Tiara, teclado, tema,
tratado, trama, tensão.
Tipos, títulos, texto,
técnica, trechos, telão.



Otacílio Monteiro



Banco de palavras: Tâmara, transa, tênis,  tesão, tatuagem, toca, teatro. 



terça-feira, 18 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O NATAL

Natal em Hamburgo (Foto de Heriberto Noppeney)


Promessa

Neste Natal eu queria
reaver algumas coisas
que em verdade não tive.
Que Papai  Noel  não seja
tão chato e tão egoísta
e que disso não me prive.

Mas se Noel insistir
em ocultar meu presente
eu busco outro caminho.
Faço valer minha crença
e solicito a clemência
do bondoso São Longuinho.

Otacílio Monteiro
2012

sábado, 15 de dezembro de 2012

Oceânica


A água do mar salgado
Sabe à saudade de alguém,
No vai-e-vem tresloucado
Das ondas do querer bem.


Otacílio  Monteiro

102 anos de Noel e Adoniran

No Centenário de Noel Rosa e Adoniran Barbosa, em 2010, fizemos o Recital "Rio-São Paulo do Samba" e ontem (14/12/2012) o apresentamos novamente no Sesi da cidade de Americana. 102 anos de uma dupla de gênios cuja música continua se renovando através de inúmeras homenagens e regravações no Brasil e no exterior. Orgulho do Samba e do Brasil!  

Rui Kleiner (Bandolim), Emanuel Massaro (Violão e Voz), Débora Vidoretti (Voz e percussão) e o poeta Otacílio Monteiro

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Sarau da Escola Antonio de Queiroz: Um sucesso!


Magnífico sarau litero-musical da Escola Antonio de Queiroz em homenagem aos peotas limeirenses. Sob a coordenação de professores dedicados, eles declamam textos  de autores locais, com muita categoria.  A cada ano o sarau fica melhor. Estão realmente de parabéns!




















domingo, 9 de dezembro de 2012

Fim do mundo





Cabalístico

Sexta-feira, vinte e um,
o mundo vai acabar.
Já se ouve o zumzumzum
no céu, na terra e no mar.
Eu, que vivo sem nenhum,
A perder ou a ganhar,
Já separei o meu rum
e quero me embebedar.

Estão todos convidados,
pobres, ricos, remediados,
para o porre apocalíptico
e  derradeiro jantar.
E, falhando a profecia,
de tristeza ou alegria,
No vinte e um cabalístico
Nós vamos nos acabar!

Otacílio Monteiro

sábado, 8 de dezembro de 2012

As Gaivotas



As Gaivotas

A árvore, às vezes, vira ave.
Na aventura do vôo,
os galhos viram asas,
Raízes no ventre da terra,
Raízes no véu infinito.
Visionária viagem,
voluntária vertigem.
O verde é vivo como o vento,
A gaivota, leve como um verso livre.
A vista vislumbra várias verdades.
Haverá verdade?

Do livro "O Direito da voz" (1989) - Esgotado

Ardente


Agenda



Agenda

Se em vida me fazem pouco,
morto quanto valerei?
Quanto valerá o rouco
verso dirigido ao rei?

Quantos lembrarão meu rosto
 e as roupas que escolhi
para os bailes onde apenas
ou nem mesmo eu me vi?

Se em vida me fazem pouco,
morto quanto valerei?
Quantos loucos debruçados
Sobre os versos que farei
Lembrarão os meus prazeres
E os seres a quem amei?
Quantos lembrarão meu nome
quando na mesa de um bar
ou quando as cordas trouxerem
o que eu gostei de cantar?
Ao menos fazendo choça,
quantos lembrarão de mim
ou da fossa que eu curtia
ao toque do bandolim?

Meus pais, irmãos e amigos
e parentes em geral
farão aos meus inimigos
ao menos guerra mental?
As namoradas que tive
lembrarão os beijos meus,
guardando entre seus pertences
Os meus escritos plebeus?

Quem guardará minha agenda
de compromissos perdidos
e endereços errados
e telefones vencidos?
Quem lembrará minhas datas,
Se em vida sou esquecido?

Quem colocará à venda
os livros que imaginei;
quem seguirá minha senda
mesmo tachado de louco?
Morto, quanto valerei
Se em vida me fazem pouco?

Otacílio Monteiro
Poematéria (1988)

Elixir, o som

http://www.youtube.com/watch?v=jCqbwd0dArY


Elixir,  de  Emanuel Massaro e Otacílio Monteiro, com  Emanuel Massaro e Manoel Tchembo, no Teatro Vitória.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Rochosa


Rochosa


Não posso dar o mergulho.
Temo bater de cabeça
nas pedras do teu orgulho.



Otacílio Monteiro

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Criança





Criança esperança

Mas que papel!
Tem mais bala que brinquedo
na sacola do Noel.


Otacílio Monteiro

domingo, 2 de dezembro de 2012

"A solidão é fera, a solidão devora"


Canto de Mesa

  
Prefiro a solidão, o abandono...
Como se fora objeto
Sobre a mesa,
Sobre o canto, insignificante,
De qualquer mesa de casa.
Antes assim
Do que ser objeto
De outrem.
Não me falem de amor
Por enquanto.
O encanto acabou
E o melhor remédio
É a solidão completa
Das horas frias e tristes.
Frias, tristes e previsíveis
Como os objetos frios,
Abandonados no canto
De qualquer mesa de casa.

  

Otacílio  Monteiro

Do livro Setenta Mil Faces, 1998 - esgotado

sábado, 1 de dezembro de 2012

Refrigério


Arco-iris número 2

 












Arco-íris no fundo de quintal de casa, 2009. 
Presente que não tem preço.



Você chove em mim.
Chuva é bom.
Alimenta o solo,
purifica o ar,
refrigera os dias.
Amarro-me em chuva.
Você chove em mim...
E é dia de sol.

Otacílio Monteiro

Ainda sobre escrever!



Refúgio

Aqui estou novamente.
Apresento-me assim,
desarmado e contente,
para o único dever
que me satisfaz ainda.
Deixei para trás a teoria,
e as rimas que pintarem,
acredita-me, são casuais.
A dureza maior da melancolia
é não saber ao certo o motivo.
Eu vivo assim há muito
e é por isso que sempre volto
e me refugio nas tuas listras,
nas tuas linhas aconchegantes,
desde muito antes de saber
que a vida pode ser dura
ou não, dependendo de mim.
Apresento-me assim, desarmado,
um tanto quanto mais magro
e cansado dos dias que passam.
Venho recuperar as forças
no teu sangue branco e preto,
meu amigo predileto,
minha folha de papel.

 Otacílio Monteiro
O Direito da Voz (1990)


A tola missão de fazer poemas



Solto


Eu cumpro na terra a minha missão
tolíssima de escrever poemas.
De retalhar palavras e empilhar histórias
do arco-da-velha e velhas memórias.
Eu cumpro na terra minha missão
de conhecer meninas pro meu coração
e de roubar pedaços do teu dia-a-dia
e arrebentar cadarços de meninas novas
e buscar estrelas nas manhãs chorosas
e escrever poemas de ponta porosa
e encharcar mil terras de maneira óbvia
e nesta rodovia ultrapassar mil carros
e não fazer problemas de milhões de escarros
aguentando a barra dum trabalho escravo
o cravo na lapela e na janela o jarro
o jarro na capela e na capela o padre
o padre na miséria e na espera a madre
a madre no poema e no poema o povo
o povo na gandaia a saia ergueu de novo
o novo no poema é estar sempre
solto.

Otacílio Monteiro
Poematéria, 1989 - esgotado


Otacílio Monteiro, no Museu da Língua portuguesa (2004)

15º Prêmio Cidadão de Poesia

XV Prêmio Cidadão de Poesia 

Homenagem ao professor José Ângelo Ribeiro e diplomação dos vencedores. 
Os destaques foram Luiz Carlos de Andrade (Categoria Regional) e Reginaldo Costa de Albuquerque (Categoria Livre). 
Promoção do Sinecol - Sindicato dos Comerciários de Limeira. Detalhes em www.sinecol.com.br 



Paulinho, presidente do Sinecol, e José Ângelo

Otacílio, Paulinho e José Ângelo

Débora Vidoretti e Emanuel Massaro

Virgínia Jubran e a magia da Dança do Ventre

Valdomiro e a poetisa Zenaide Elias

Poetisa Lóla Prata

Érido, poeta Geraldo Trombin e João Sedano

Poetisa Nathalie Cristine Gallo

Ivo Cardoso, Fiore (representando Reginaldo Albuquerque) e João Sedano

Ivo Cardoso e  poeta Marcos Lima

Nivaldo Paresque, poeta André de Freitas Barbosa e João Sedano