quinta-feira, 28 de março de 2013

As mulheres


Magia

Quando a noite se impõe
banhada no riso solto
e na volúpia dos deuses,
elas _ as tecelãs que recriam
o dia a dia da vida
na teia do encantado _
brilham mais forte que o sol.
  
Quando o mundo se entrega
ao passo determinado,
sensual e ritmado
dessas mulheres que brilham,
como num passe de mágica
a noite se ilumina.
Encantamento de fada
com ternura de menina!

Otacílio Monteiro


quarta-feira, 27 de março de 2013

Poesia


Carta 

  

Teus olhos falam de mares
nunca dantes navegados.
O teu sorriso, de portas
que levam ao paraíso.

Otacílio Monteiro

Deslize


Deslize

Por um triz...
Quase caio em tua boca
ao  te beijar no nariz.

Otacílio Monteiro

Questão de ordem


Ídolo


Questão de ordem!

O polido Israel estava alterado. Sua voz ressoou pela sala, forte, grave e altiva como nunca se ouvira em 45 anos de vida.

Contra as expectativas, ele defendia a greve. Com um discurso arrebatador, escancarou 30 anos de trabalho mal pago e o arrependimento pela revolta quase tardia. Sim, quase, pois antes tarde do que nunca.

De tímido, a líder e agitador. Greve definida, Israel deixou o sindicato, os olhos vertendo sonhos e o coração nas nuvens.

Nem entrou no carro. Uma bala, talvez perdida, estava no curso. Nova promoção o eleva a mártir. E a luta continua!


Otacílio Monteiro

Poeta brasileiro

quarta-feira, 20 de março de 2013

A nova estação



Outono

As tuas mãos de outono,
estando eu em inverno,
pousaram sobre meu corpo
num gesto quase materno.

Eram mãos ensolaradas
de um sol que pra mim guardaste,
um verão que tens na alma
e que não sofre desgaste.

Tuas mãos de outono quente
vieram pousar em mim
e eu me vi, de repente,
Propenso a dizer-te sim.

Teus olhos castanhos claros
no azul dos meus se espelharam.
Nossas almas se queriam,
nossos corpos se entregaram!


Otacílio Monteiro e Sílvia Oliveira
Do livro Ímpares, 1998. 

domingo, 17 de março de 2013

ERRANTE


Errante 

Do que fizera, do que vivera, apenas restaram vozes. Soturnas vozes desconexas, a lhe torrar os miolos.
Deu as costas para o mundo, num belo dia de frio. Ia sumir por aí, seguindo o rumo do vento. Voltaria quando as vozes, enfraquecidas e roucas, se cansassem do caminho e lhe pedissem arrego.
Não voltou, nem deu notícias. Caminha torto pelo mundo afora, a sacudir a cabeça. As vozes, atrapalhadas, seguem seus passos errantes. Aguentam firme a toada, marcando o ritmo trôpego.

Otacílio  Monteiro

sábado, 9 de março de 2013

Microconto


Romance









Corpo de diva em 15 anos de charme, Aline quer ser mulher. Mais do que mulher, que qualquer boboca pode ser, ela quer ser diferente.
Gil é amigo da casa. Coroa sarado, muita areia pro caminhãozinho de Célia. Ter um caso com um amigo do pai é tudo. E o caso rolou.
Domingo, Gil não veio à piscina. Aline ligou, mas Célia atendeu:
_ Já sei de tudo. Nunca mais o Gil pisa aí e vou ter um papo com seus pais.
Há quatro dias, Aline sumiu.  Os pais estão desesperados. Gil também, mas nem sonha que Célia saiba do caso.  Ela ri à toa: “Vou ficar na minha. Os pais dessa cadela que se fodam”!

Otacílio Cesar Monteiro

Clássico


Clássico











Era um poeta.
Divagava_ lápis e papel à mão_ entre garrafas e bitucas, guitarras e cavacos, amigos e mulheres.

Ah, as mulheres, que perdição!
Naquela manhã, contrariando sua doutrina de boêmio e bêbado, Cecílio estava sóbrio e desperto, pronto para abater mulher alheia em seu momento nobre, aquele intervalo entre a saída do corno e as tarefas domésticas. Às oito, adentrara a casa e começara o serviço, entrecortado de versos de amor.
O Soneto de Fidelidade ficou faltando uma parte. Cecílio Mendes virou saudade com um balaço na testa. O casal se mudou pra longe.

Otacílio  Monteiro