Dizem que poemas e livros são como filhos, mas honestamente sempre tem alguns que a gente gosta mais. Aqui vão alguns textos que marcaram para mim e, acredito, também para meus leitores. Em breve teremos um livro com meus 50 poemas escolhidos. Espero que gostem!
Do livro Poematéria
À Mulher que eu Amo
A
mulher que eu amo
É
morena
De
olhos castanhos,
Às
vezes serena
E
às vezes nervosa.
A
mulher que eu amo
Adora
rosas e carinho,
Mas
é dura feito pedra
Quando
quer,
Às
vezes criança
Às
vezes mulher.
A
mulher que eu amo
Não
mede palavras
Quando
preciso,
Embora
seja discreta,
Ainda
que curiosa.
Às
vezes espinho,
às vezes rosa,
Mas
sempre muito
Maravilhosa
Mente humana.
Cristal
Bebe
da poesia,
canta
os dias que virão.
fala
de amor.
Bebe
dessa poesia
e
faz dela tua arma,
branca
e pura,
antes
que ela te engula
e
faça de ti um instrumento
fraco
e mudo.
Poematéria
O
caipira faz um poematuto,
a
indústria tece um poematéria.
Um
poemacaco foge do zôo,
Um
poemacuco levanta vôo.
Marceneiro
bate um pormartelo,
o
artista pinta um poemarelo,
enquanto
desfruta um poemarmelo
e
escuta e dança um poemaxixe.
Na
sua beliche, o poetalvez
Finca
no papel a canetantã.
Surge
à luz do dia uma estrofeliz
e
o sol anuncia um poemanhã.
Tempoema
Tempo
e matéria
Tem
poesia na matéria
Poema
tema teria
Sem
maneiras de amor?
Tempo
e maneira
Tem
poema nesta artéria
Poematéria,
eis o tema;
Tempo
e amor
Tempoema.
Pavão
Gol
de Pelé, lançamento de Gérson.
Acordeon
de Gonzaga,
vagalume
em noite alta,
peralta
em pé-de-limão.
Coração
idealista,
vista
do mar de manhãzinha,
Mãe
Menininha derramando bênção,
violão
de Caetano,
ano
novo sem seca.
Gol
de Careca, lançamento de Pita.
Fita
de Tarzan de manhã cedinho,
cavaquinho
de Waldir Azevedo,
enredo
da Império 86,
dia
dez de todo mês.
Solto
Eu
cumpro na terra a minha missão
tolíssima
de escrever poemas.
De
retalhar palavras e empilhar histórias
do
arco-da-velha e velhas memórias.
Eu
cumpro na terra minha missão
de
conhecer meninas pro meu coração
e
de roubar pedaços do teu dia-a-dia
e
arrebentar cadarços de meninas novas
e
buscar estrelas nas manhãs chorosas
e
escrever poemas de ponta porosa
e
encharcar mil terras de maneira óbvia
e
nesta rodovia ultrapassar mil carros
e
não fazer problemas de milhões de escarros
aguentando
a barra dum trabalho escravo
o
cravo na lapela e na janela o jarro
o
jarro na capela e na capela o padre
o
padre na miséria e na espera a madre
a
madre no poema e no poema o povo
o
povo na gandaia a saia ergueu de novo
o
novo no poema é estar sempre
solto.
Agenda
Se
em vida me fazem pouco,
morto
quanto valerei?
Quanto
valerá o rouco
verso
dirigido ao rei?
Quantos
lembrarão meu rosto
e as roupas que escolhi
para
os bailes onde apenas
ou
nem mesmo eu me vi?
Se
em vida me fazem pouco,
morto
quanto valerei?
Quantos
loucos debruçados
Sobre
os versos que farei
Lembrarão
os meus prazeres
E
os seres a quem amei?
Quantos
lembrarão meu nome
quando
na mesa de um bar
ou
quando as cordas trouxerem
o
que eu gostei de cantar?
Ao
menos fazendo choça,
quantos
lembrarão de mim
ou
da fossa que eu curtia
ao
toque do bandolim?
Meus
pais, irmãos e amigos
e
parentes em geral
farão
aos meus inimigos
ao
menos guerra mental?
As
namoradas que tive
lembrarão
os beijos meus,
guardando
entre seus pertences
Os
meus escritos plebeus?
Quem
guardará minha agenda
de
compromissos perdidos
e
endereços errados
e
telefones vencidos?
Quem
lembrará minhas datas,
Se
em vida sou esquecido?
Quem
colocará à venda
os
livros que imaginei;
quem
seguirá minha senda
mesmo
tachado de louco?
Morto,
quanto valerei
Se
em vida me fazem pouco?
Do
livro “O Direito da Voz”
Renúncia
De
repente eu estava nu,
de
repente eu estava só.
Dei
as costas para o mundo,
não
admiti ajuda.
Foi
o meu primeiro ato
de
consciente renúncia
e
minha primeira dor.
O
sol queimou o meu rosto
que
estava nu e estava só,
mas
eu não procurei colo
e
assumi a solidão.
Dei
as costas para o mundo
e
absorvi o prejuízo.
Não
admiti ajuda.
Foi
o meu primeiro ato
de
consciente renúncia.
Tacharam-me
vagabundo.
Refúgio
Aqui
estou novamente.
Apresento-me
assim,
desarmado
e contente,
para
o único dever
que
me satisfaz ainda.
Deixei
para trás a teoria,
e
as rimas que pintarem,
acredita-me,
são casuais.
A
dureza maior da melancolia
é
não saber ao certo o motivo.
Eu
vivo assim há muito
e
é por isso que sempre volto
e
me refugio nas tuas listras,
nas
tuas linhas aconchegantes,
desde
muito antes de saber
que
a vida pode ser dura
ou
não, dependendo de mim.
Apresento-me
assim, desarmado,
um
tanto quanto mais magro
e
cansado dos dias que passam.
Venho
recuperar as forças
no
teu sangue branco e preto,
meu
amigo predileto,
minha
folha de papel.
A Relação
Caiu
a mão sobre a tecla
e
a tecla sobre o papel.
Sobre
tudo, a mescla:
Carinho
- ataque cruel.
A
relação, humana relação,
é
latente.
Antiga mente
previu
antigamente.
O
papel vítima?
A
tecla cínica
ou carinhosa?
A
rosa e o regador,
o
regador e a rosa.
É
preciso que se molhe
para
que haja vida.
Necessário
que se imprima
para
que haja vida,
é
a lei da continuidade.
A
mão sobre a tecla
sobre o papel
sobre a estante
diante
dos homens.
Para
que saibam
(direito adquirido)
que
é dever de todo jardineiro
andar
dentro da lei
em todos os sentidos.
Caminhos da Vida
(No colo do mundo, escuro calvário)
Os
caminhos da vida são diversos.
Dispersos
pelo mundo, os homens.
Há
caminhos de infância:
poesia
e brinquedos.
De
mocidade:
boemia
e aventura.
De
vida adulta:
nostalgia e distância.
Com
um pouco de bom senso
e
uma pitada de sorte,
compreende-se
a tempo
que
se caminha pra morte.
E
mesmo assim – que trabalho! –
muitos
procuram atalhos,
pra
que não fique tão longe
chegar
não se sabe onde.
As Gaivotas
A
árvore,
às vezes,
vira
ave.
Na
aventura
do vôo,
os
galhos viram asas,
Raízes
no ventre
da terra,
Raízes
no véu
infinito.
Visionária viagem,
voluntária vertigem.
O
verde
é vivo
como o vento,
A gaivota, leve como um verso livre.
A
vista
vislumbra
várias verdades.
Haverá
verdade?
(Aos poucos vamos publicando. Tem tanta coisa ainda, mas a gente chega lá. Abraços!).